Texto bíblico na Nova Tradução na
Linguagem de Hoje
Paulo Francisco dos Santos[1]
“... E José contava ao pai as coisas erradas que os seus
irmãos faziam. Jacó já era velho quando José nasceu e por isso ele o amava
mais do que a todos os seus outros filhos. Jacó mandou fazer para José uma
túnica longa, de mangas compridas. Os irmãos viam que o pai amava mais a José
do que a eles e por isso tinham ódio dele e eram grosseiros quando falavam com
ele.”
Gênesis 37.2-4
José, filho de Jacó-Israel é um personagem bíblico que através dos séculos
desperta uma simpatia sem igual entre religiosos e até mesmos entre simples leitores
das crônicas do povo hebreu... Talvez se fizéssemos um enquete sobre símbolo bíblico
de integridade, comunhão com Deus e vida exemplar nosso personagem em tela
seria cotado como uns dos favoritos a ser o mais lembrado. Entretanto, sem
querer denegrir sua apaixonante e ilibada conduta, que lhe rendeu a posição de
Governador da maior potência de sua Época e o status de herói da fé, quero
trazer uma reflexão sobre os caminhos que Deus percorre para moldar o ser
humano e transformá-lo de um problemático filho mimado em uma figura que norteia
gerações com seu exemplo de vida. Infelizmente, ou melhor, felizmente José não
foi sempre o José que é pregado no sentido de exemplo de fé, pois a semelhança
de todos os descendentes de Adão também sofria a influência do pecado e sozinho
não poderia ter a capacidade de vencê-lo. Isso mesmo, José era uma pessoa
pecadora, com graves problemas de relacionamento na família, com um
egocentrismo latente, cercado de uma superproteção que quase arruinou sua vida.
Talvez sua indagação seja: “De onde você retirou isso?” Acompanhe sua história
com atenção e você perceberá que na construção de sua personalidade desde a tenra
idade não havia limites para o preferido de Jacó. Tudo era para ele. Sendo o
filho mais novo havia até ganhado a túnica colorida que o posicionava como o
futuro líder da família. O pai demonstrava claramente que José era amado e
preferido em detrimento dos outros. O próprio José quando contava seus sonhos
aos irmãos provocava ódio, mas não era por causa do sonho em si, mas pela
maneira que ele contava (vers.8). O orgulho próprio de José era tão tamanho que
ele se tornou um especialista em buscar erros em seus irmãos para acusa-los
diante de seu pai. Além de ser o preferido, ainda contribuía para que seu pai
menosprezasse ainda mais seus irmãos com sua atitude de vigilante da vida
alheia (fofoqueiro) e propagador de erros. Geralmente ao ler superficialmente a
história podemos chegar a conclusão que se os irmãos de José estavam fazendo
coisas erradas deveriam pagar diante de seu pai por isso, mas ao ponderarmos
numa ótica mais aguçada e considerarmos o porque de contar os erros veremos
algo diferente, pois querer corrigir o erro confrontando para melhorar o caráter
de uma pessoa é uma atitude louvável quando se está discipulando, mas apenas
revelar o erro com a intenção de prejudicar é algo desprezível e também um
grave indicio de doença na alma. A
superioridade latente e a descabida ignorância de seu pai em equilibradamente dar
a todos os filhos atenção, amor e respeito gerou não somente uma crise
familiar, mas também uma crise de identidade em José que somente poderia ser
resolvida por Deus. A natureza humana que estava aflorada em Jose precisava ser
transformada, pois a final de contas Deus tinha uma obra na vida dele (será
que isso tem algo haver comigo ou com você!?) e naquela família desajustada,
em meio ao ódio dos irmãos, dos paparicos do pai e da idolatria pessoal jamais
ele poderia chegar a posição de príncipe e herói da fé. A Escola Divina foi
acionada! Se você acompanhou a história em Gênesis a partir dos versículos posteriores
a nossa reflexão pode ver José descendo a um buraco, sendo preso e vendido como
escravo, caluniado, lançado num calabouço, esquecido por todos, mas assistido
de perto por Deus, o Deus que o havia escolhido desde o ventre de sua mãe e que
não o desamparou em nenhum momento. Neste momento surge uma pergunta: “Havia
necessidade de José passar por tudo isso?” Acredito que essa mesma pergunta você
às vezes faz em relação a suas dificuldades e problemas, e devo admitir que realmente
é difícil para nós (pequenos seres humanos) que temos a visão tão limitada
entender os desígnios divinos, mas o Apóstolo Paulo em Romanos 9.20 diz: “Mas quem é você,
meu amigo, para discutir com Deus? Será que um pote de barro pode perguntar a
quem o fez: “Por que você me fez assim?” Veja o resultado do trabalhar divino na
vida de José... O ódio dos irmãos transformou-se em arrependimento, a família
desajustada passou por uma transformação tão profunda que todos passaram a
cuidar melhor um dos outros a ponto de Judá se oferecer como escravo em troca
do irmão mais novo (Benjamin), e José aquele ególatra compulsivo deixou de se
ver como o centro do mundo e se tornou o salvador daquela geração e das gerações
futuras, compreendeu que não havia o porque de se achar melhor que os irmãos,
de humilha-los, de impor e mostrar que o pai o amava mais do que todos. O José
que passou pela Escola Divina compreendeu que tudo o que aconteceu com ele
fazia parte dos propósitos de Deus para o colocar numa posição de honra e
molda-lo para ser verdadeiramente um homem de uma fé exemplar, uma pessoa altruísta
e generosa, um homem curado das mazelas da natureza humana, disposta a perdoar,
a ser um herói lembrado entre muitas posteridades. Quero chamar a atenção nesta
reflexão para a lição que José doou para todos nós que acreditamos no mesmo
Deus que ele acreditou – lição está que mostra que devemos deixar Deus nos
moldar... Que devemos parar de culpar o mundo, o nosso arqui-inimigo e qualquer
outro que nosso ego queira eleger para transferir o que cabe a nós... Medite
nisso: “Se buscarmos identificar nossas mazelas e as colocarmos na presença
divina o mais rápido possível teremos o privilégio de passar um período menor na
escola divina que tratou José (José levou 13 anos para chegar a governador).”
Qual é sua posição diante Deus? Tiago 4.10 diz: “Humilhem-se diante do
Senhor, e ele os colocará numa posição de honra.”
SP, Maio de 2014.
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